13
julho
2011

Falar de um grande líder nos dias de hoje é um assunto bem complicado, raro e difícil. Ainda mais em território árabe, onde nos últimos meses, só se ouve falar em queda de governo, revoluções e reivindicações.

Mas morando por aqui, é bem mais fácil entender “os porquês” das reivindicações de cada “tribo” e suas insatisfações.

Aqui nos emirados por exemplo, tudo é muito tranquilo porque o povo está satisfeito com o seu governo.

E a razão maior de tanta satisfação se deve ao grande mentor e líder Sheikh Zayed bin Sultan Al Nahyan, que fundou e governou os Emirados Árabes Unidos durante 33 anos (1971-2004).

Para os cidadãos dos emirados, a grande maioria dos quais eram jovens demais para lembrar qualquer outro líder, ele não foi apenas um presidente e governador, mas também um pai. Seu falecimento, como era de se esperar, foi um derramamento de pesar em todo o país, tanto entre os cidadãos dos Emirados Árabes Unidos assim como os expatriados, muitos dos quais viveram a maior parte de suas vidas aqui.

Como já comentado em post anterior, a religião para eles é um fator sine qua non e tudo é baseado no que prega o Corão ou Alcorão (em inglês: Quran) – livro sagrado do Islamismo. E foi através desses ensinamentos que sheikh Zayed se orientou para proporcionar ao seu povo uma vida digna, além do progresso que trouxe para o seu país.

Os Emirados Árabes Unidos hoje é o memorial do sheikh Zayed – e não apenas na sua infra-estrutura física, mas, mais na importância que ele deu a seu povo.

Olha esse vídeo que bacana:

Nascido em 1918 em Abu Dhabi, sheikh Zayed era o mais jovem dos quatro filhos do sheikh Sultan bin Zayed Al Nahyan, governador de Abu Dhabi nos anos de 1922-1926. Ele foi nomeado o sucessor de seu avô, o sheikh Zayed bin Khalifa, que governou o emirado 1855-1909, o mais longo reinado nos três séculos e meio desde que a família Al Nahyan emergiu como líder do emirado de Abu Dhabi.

A vida para os membros da família real, era simples. A educação era confinada a aulas de leitura e escrita, juntamente com instruções em Islã com o pregador local, enquanto as instalações modernas, como estradas, comunicações e serviços de saúde eram visíveis apenas à distância. O transporte era de camelo ou barco, e o rigoroso clima árido significava que a própria sobrevivência era muitas vezes uma grande preocupação.

De suas viagens pelo deserto, sheikh Zayed desenvolveu uma compreensão da relação entre o homem e o seu meio-ambiente e, em particular, a necessidade de assegurar a utilização sustentável vindo dos recursos naturais.

Em 1953, sheikh Zayed fez sua primeira visita à Europa, e ficou impressionado com as instalações das escolas e hospitais que visitou, e voltou determinado de que o seu próprio povo deveria ter o benefício de instalações semelhantes:

“Eu tinha vários sonhos. Sonhava com a nossa terra aproximando-se com o mundo moderno, mas eu nada podia fazer, porque eu não tinha os meios em minhas mãos para alcançar esses sonhos. Eu tinha certeza, no entanto, que um dia eles se tornariam realidade”.

Como diz o ditado “Deus dá o frio conforme o cobertor”.  E deu mesmo! A região foi abençoada pela descoberta do petróleo, e foi através desse recurso que sheikh Zayed pode realizar o que tinha em mente. Ele estava com a faca e o queijo nas mãos e fez disso um belo sanduiche!! Utilizou as receitas advindas do petróleo na construção de hospitais, escolas, universidades, dando acesso gratuito para os cidadãos dos EAU. Construiu moradias populares decentes, forneceu transportes públicos confortáveis e eficientes, institui assistência médica de qualidade, construiu estradas, aeroportos,  criou empregos…, enfim, deu ao seu povo o que ele precisava para ter uma vida de qualidade. Como é que isso não reverteria em total gratidão?? Está aí a resposta do porque que aqui não há revoluções, insatisfações, reivindicações, crime ou vandalismo. Aqui as pessoas parecem viver em completa harmonia. E olha que apenas 20% da população é “emirati“. Em todos os cantos da cidade, de dia ou de noite, não há com o que se preocupar. É um lugar que te dá paz. As vezes chego a conclusão de que rezar 5 vezes ao dia faz mesmo a diferença!! Mas calma! Nem tanto ao céu nem tanto a terra! Nada de fanatismos!

Mas voltando…

Sheikh
Zayed nasceu para ser líder! Nasceu na hora certa e no lugar certo. Era um homem de visão e queria trazer o progresso para o seu país. Ao contrário de muitos políticos que conhecemos, ele tinha vontade de realizar, botar a mão na massa e fazer acontecer. Acreditava que o trabalho sem sacrifício não tinha mérito. Ele queria fazer do seu país um exemplo. E fez.

Quando andamos pela cidade parece que ele está em todos os lugares. Nas calçadas bem alinhadas, nas praças bem cuidadas, nos transportes públicos, no capricho dos viadutos, nas casas populares, nas arquiteturas e projetos icônicos, nas rodovias arborizadas, enfim, é realmente de se admirar o quanto ele fez pelo seu país. E claro, o seu retrato está por toda a cidade. Estou até pensando em colocar um também em cima da minha cama, tal a admiração que passei a ter por ele…hehe!! (menos Teresa, menos…).

Mas o que me fascina, é que, no meio de tanto asfalto e progresso, nos estamos mesmo é rodeados de areia e literalmente no meio do deserto! As laterais das estradas ao invés de verde, é um mar de areia infinito.
Essa paixão que a gente vai alimentando pelo lugar,  é uma sensação única, que só quem vive aqui é que pode sentir o amor que Sheikh Zayed tinha pelo seu povo e pelo seu país. E eu, estou completamente apaixonada por ele!

Outros benefícios que sheikh Zayed fez para o país, foi decretar que o estado assumiria os custos dos serviços de saúde para famílias estrangeiras incapazes de arcar com tais despesas, além de a adoção de centenas de órfãos e a construção de vários hospitais no exterior, principalmente na Europa, Ásia e África.

Sheikh Zayed com o seu povo

 

Muitos observadores estrangeiros não acreditavam na sua administração e idéias, prevendo que o novo país – Emirados Árabes Unidos – não sobreviveria, achando que haveria disputas entre eles devido à grande disparidade no tamanho, a população e o nível de desenvolvimento dos sete emirados.

Mas Zayed era mais bem informado sobre o caráter do seu povo e naturalmente mais otimista. Com muito trabalho e dedicação, sabia que seus ideais seriam alcançados.

“O que tem sido realizado superou todas as nossas expectativas, e que, com a ajuda de Deus e uma vontade sincera, confirma-se que não há nada que não possa ser alcançado a serviço do povo, se a determinação é firme e as intenções são sinceras”.

Está aí uma observação de peso: intenções sinceras!  Isso ele pôde aplicar com tranquilidade, pois a cultura do país seguiu e segue rigorosamente essa filosofia. Bem diferente do nosso querido e corrupto Brasil!

Dedicação e seriedade

 

As previsões pessimistas no entanto foram esmagadoramente demonstradas serem infundadas. Nos 33 anos que se seguiram, os EAU não só sobreviveram, mas desenvolveram um patamar quase sem paralelo. O país tem sido totalmente transformado. Sua população passou de cerca de 250.000 em 1971 para uma estimativa de cerca de 4,3 milhões no final de 2004. Houve progresso, em todos os sentidos como na prestação de serviços sociais, saúde, educação, assim como os setores de comunicação e da economia petrolífera e não petrolífera. A consequência disso foi um alto padrão de vida que se espalhou ao longo dos sete emirados, a partir de cidades ultra-modernas até as áreas mais remotas do deserto. A mudança, aliás, ocorreu em um contexto de estabilidade política e social invejável, apesar da insegurança e os conflitos que tem perseguido a maior parte da região do Golfo.

Quando perguntado pelo jornal The New York Times, em abril de 1997, por que não havia democracia parlamentar eleita, Zayed respondeu:

Por que devemos abandonar um sistema que satisfaz o nosso povo, a fim de introduzir um sistema que parece gerar discórdia e confronto? Nosso sistema de governo é baseado em nossa religião e é isso que o nosso povo quer. Eles devem buscar alternativas, e estamos prontos para ouvi-los. Nós sempre dissemos que o nosso povo deve exprimir as suas exigências abertamente. Estamos todos no mesmo barco e eles são o capitão e a tripulação. Nossas portas estão abertas para qualquer opinião a ser expressa, e são bem conhecidas por todos os nossos cidadãos. É nossa profunda convicção de que Deus criou as pessoas livres e receitou que cada indivíduo deve desfrutar de liberdade de escolha. Ninguém deve agir como se apenas alguns mandassem nos demais. Aqueles em posição de liderança devem lidar com seus súditos com compaixão e compreensão, pois esse é o dever ordenado a eles por Deus, que nos orienta para tratarmos bem todas as criaturas, para que possam viver com dignidade. Como podem faltar coisas para a humanidade, se temos Deus como nosso criador? Nosso sistema de governo não deriva sua autoridade do homem, mas está consagrado na nossa religião e é baseado no livro de Alá, o Corão. Que necessidades temos mais que os outros? Seus ensinamentos são eternos e completos, enquanto os sistemas conspirados pelo homem são transitórios e incompletos”.

E não parou por aí! Grandes extensões de terras também foram distribuídas gratuitamente à população. Essa política também beneficiou algumas famílias mais afortunadas, na proporção de seu status e influência junto à família real. Sua majlis (tradicional consulta árabe do conselho) era aberta ao público, para discutir questões nacionais e pessoais. Também era tolerante com outras crenças, permitindo a construção de edifícios religiosos, como igrejas e templos. Essa ação em particular, ajudou sua imagem com as vastas multidões de trabalhadores estrangeiros que compõem hoje cerca de três quartos da população dos Emirados Árabes Unidos. Zayed também foi um defensor da educação e da participação das mulheres no mercado de trabalho. E cá pra nós, ele não era de se jogar fora não!!!

Zayed na sua época de beduíno

 

Sheikh Zayed em uma de suas viagens

 

Sheikh Zayed sempre carismático!

 

Sheikh Zayed e o comprimento característico entre os emiratis. Muito fofinho!!

 

Sheikh Zayed bin Sultan Al Nahyan (1918 – 2004) – charmosão né?? – Foto Jack Burlot

 

Sheikh Zayed teve 9 esposas e 27 filhos!!! Nada bobo ele hein!!

 

 

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