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Dogs show us that our great companions may not only be remarkable as dogs - they can also hold the key to new understanding of what it is to be human.
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Tim Flach
Em 2006, depois de quase 2 anos morando na China, tinha chegado a hora de partir. Eu como uma boa “gourmand”, tinha sentido falta de muitas iguarias que na terra do tio Mao não eram encontradas com tanta facilidade. Azeitona era uma delas.
Já de volta aos Estados Unidos, muitas vontades começaram a ser saciadas. Quando entrei no supermercado e senti o delicioso aroma da gôndola de antepastos quase fui ao delírio e sussurrei aliviada: “Ahhhhhhh, AQUI TEM AZEITONAS”!!
Mas mais do que azeitonas, aqui vou postar outras tantas sensações e emoções que vivo no dia a dia desse pinga-pinga cultural, desafiante e tão surpreendedor!
Nasci em São Paulo, capital, e desde pequena sempre fui apaixonada pela natureza e, é claro, os animais faziam parte dessa paixão.
Tínhamos um sítio no km 75 da rodovia Castelo Branco, chamado “Fazendinha Escada Comprida” - porque tinha uma escada branca de cimento enorrrrrme que ia da sede até o pomar. Nossa, como eu cansava de subir aquela escada!! Parecia não acabar nunca...
O sítio era a menina dos olhos do meu pai, e a casa de praia, era mais a cara da minha mãe, onde intercalávamos as idas e vindas nos fins de semana.
O sítio era muito simples, mas tinha o que eu precisava para ser feliz. Foi lá que passei parte da minha infância e que guardo tão boas lembranças.
Ele tinha uma localização peculiar: ficava num vale e logo na chegada avistávamos do alto a represa lá embaixo, e íamos descendo devagarinho com o carro sobre o caminho de terra ainda machucado pela erosão da chuva.
Mal descarregávamos as malas, eu já pedia ao papai para mandar selar os cavalos. Eu tinha apenas 6 anos, mas já sabia montar num cavalo como ninguém. Sempre conferia se a barrigueira não estava muito apertada ou se a rédea não estava machucando sua boca. Os bichos sempre foram minha paixão.
Tínhamos um pomar com mexericas, limão e laranjas, que aprendi a chupar no pé e a apreciar o cheiro das frutas. Também tínhamos um pequeno curral com algumas vacas holandesas, também menina dos olhos do meu pai, e todas as manhãs levávamos nossas canecas para tomar leite fresquinho, ordenhado direto da fonte!
A charmosa represa, construída por meu pai, desembocava numa cachoeira, que ficava atrás de um lindo bambuzal e que sempre nos deliciávamos com a força da sua água batendo nas nossas costas.
Nos fins de tarde, minha mãe cozinhava a enorme sobra do leite tirado das vacas em um grande panelão no forno a lenha, mexendo com uma colher de pau até virar doce de leite. Em cima de uma cadeira, eu ficava ao lado dela, apreciando atentamente a transformação daquela magia, que logo mais iria parar no meu estômago!
Ah, como eu gostava do sítio! Meu signo comprova esse deleite. Sou da terra, do pé no chão, da chuva e do vento no rosto. Do cheiro da fruta no pé, da terra molhada, do pasto, da comida caseira, do forno a lenha, da rede na varanda, do barulho da charrete e do respeito com os animais e a natureza. Um mundo de fontes naturais, que, para mim, é a maior riqueza que pode existir.
Tendo todas essas riquezas como base, era normal que na minha vida adulta eu procurasse ter as mesmas fontes naturais para, digamos, viver mais agradavelmente. Claro que os cavalos e as vacas não poderiam me acompanhar para sempre, mas toda as vezes que passo perto de um deles e sinto o peculiar cheiro de pasto, é como se me revigorasse a alma de qualquer mal. (hahahaha... podem rir, mas é verdade!). E por incrível que pareça, aqui em Dubai moramos do lado do Dubai Polo Club (hípica) onde o veterinário das minhas cachorras fica lá dentro! Gosto pouco de ir lá??
Mas o que eu quero dizer com tudo isso, é que mudar de país não é assim TÃO bom quanto as pessoas imaginam. Claro, não vou negar que viajar é sempre bom. Mas mudar de casa, de vida, é bem diferente. Ainda mais quando essa mudança é periódica! Nas poucas experiências que já tive, cheguei a conclusão que o clima é fundamental para qualquer adaptação. Coisa que antes eu nem imaginava que isso influenciasse tanto nas nossas vidas.
Só para ter uma ideia, em 2005, quando fomos morar na China, eu tinha plena convicção de que iria me adaptar super bem por lá. De fato, no início, foi muito bom. Aproveitei tudo o que ela tinha de melhor. Adorava ir para a rua e explorar esse país de cultura milenar e com tantas histórias para desbravar. Mas no segundo ano... começaram a me fazer falta as minhas fontes naturais. Eu precisava urgentemente do contato com o sol e a água na minha pele. E nenhuma dessas duas fontes eram muito bem apreciadas na terra dos “ching-lings”. O sol era evitado a qualquer custo, com mantos e viseiras que cobriam todo o rosto das madames ciclistas. Mar então? Nem pensar! E piscinas só cobertas e aquecidas. (bem diferente da minha cachoeira, geladinha e fresquinha!). Além disso, a comida em Beijing (Pequim), não chegava nem perto da comida chinesa/cantonesa que eu estava acostumada no Brasil. Lá, a maioria dos pratos são cozidos e com caldos, uns temperos esquisitos...que sinceramente, eu que aprendi a ser um “bom garfo”, era difícil engolir! Eu nunca imaginava que passaria por tanto aperto. Dizia para mim mesma: “-Imagina, eu adoro comida chinesa!! Vou me adaptar super bem!! – Tá bom!!!!
Fora isso, o clima em Beijing era muito seco e minha pele nos primeiros meses chegava a arranhar nas fronhas e lençóis de tão rachada! Na primeira vez que senti a pele arranhando levei um susto!! Nunca tinha sentido essa sensação na pele antes!! Eu tive que levantar no meio da noite e me besuntar com cremes hidratantes para conseguir dormir.
Por isso, hoje penso duas vezes antes de me mudar para esse ou aquele pais. (como se eu tivesse opção de escolher...hahahaha!!).
Depois da China já moramos na Colômbia em Cartagena, voltamos para os Estados Unidos, em Houston (nosso Q.G.), e agora estamos aqui, entre Abu Dhabi e Dubai, nos Emirados Árabes e que espero não sair tão cedo!!! Apesar do calorrrrrr, estou gostando muito desse lugar!
Mas enfim, essa é a minha história ou parte dela. Em função do trabalho do meu marido, vivo viajando “para cima e para baixo” (como diz a minha mãe), e procuro tirar proveito de cada pedacinho dessas passagens, afinal, quem está na chuva é para se molhar! E que venham as chuvas...pleaasssse!!!!!!