Arquivo da categoria: Religião

19
maio
2012

Sheikh Zayed bin Sultan Al Nahyan (1918-2004) é conhecido por suas contribuições como um líder de visão, de intuição afinada e gostava de realizar (coisa rara na política brasileira). Depois de fundar os Emirados Árabes Unidos, Zayed foi capaz de instigar e realizar grandes contribuições para seu país, que alterou dramaticamente o estilo de vida e o destino de seu povo em nível econômico, intelectual e social. Ele foi um ícone na administração pública, fez do deserto um país modernosofisticado, preservando ao mesmo tempo a identidade cultural de sua nação.

E para honrar esse grande líder,  esses conceitos foram personificados na Grande Mesquita Sheik Zayed, um projeto majestoso, que revela um espectro de esplendores arquitetônicos pós-modernos, enriquecendo seus históricos gostos islâmicos.

A Grande Mesquita Sheik Zayed em Abu Dhabi – pôr-do-sol da entrada principal

Como testemunho da visão de seu fundador, a Grande Mesquita Sheik Zayed situa-se majestosamente na entrada da ilha de Abu Dhabi, claramente visível a partir das três principais pontes que ligam a ilha ao continente: Maqta, Mussafah e Sheikh Zayed Bridge.

Ao atravessar a ponte para a ilha de Abu Dhabi, já podemos avistar a Grande Mesquita Sheik Zayed, que lhe dá as boas vindas  com suas magestosas cúpulas e minaretes de mármore branco. É uma estrutura incrível que, mesmo depois de vê-la várias vezes, continuo encantada por ela!  Nenhuma viagem a Abu Dhabi se torna completa sem uma visita à Grande Mesquita.

A localização geográfica da mesquita foi estratégica e é uma expressão simbólica da ligação emocional que ela transmite nos corações de todos os cidadãos dos EAU e principalmente por ser o local de sepultamento do fundador dos Emirados Árabes, Sheikh Zayed bin Sultan Al Nahyan.

Eu e meu marido visitando a mesquita

Se você não é muçulmano, ao visitar uma mesquita (especialmente ESTA) você pode se sentir um pouco intimidado. Assim que chegar, tenha em mente que há regras a seguir:

>Mesquitas têm códigos de vestimenta restrito. Para os homens: Não pode camiseta sem manga nem shorts. Bico! Para as mulheres: Não pode roupas decotadas, transparentes, justas, shorts e mini-saias. Se você não estiver dentro das regras não tem problema. Logo na entrada, é fornecida uma abaya (túnica preta larga limpinha, eu garanto!) e sheila (lenço para cobrir o cabelo).  Dica: para que a sheila não fique escorregadia na sua cabeça, faça um coque alto ou um rabo de cavalo. Regra geral para todos: Tirar os sapatos antes de entrar na mesquita. Essa é a parte que eu mais gosto… adoro um pé descalço!!

O objetivo do sheikh Zayed foi de estabelecer uma mesquita histórica, personificando a mensagem islâmica de paz, tolerância e diversidade. Ele pretendia transformar a Grande Mesquita em uma referência viva da arquitetura islâmica moderna que une o passado com o presente em uma melodia marcante e harmoniosa. E olha só o resultado!!

Ver essa maravilha ao vivo e a cores é de tirar o fôlego!

Sabe que eu até gostei desse visual??

Pegando o jeito…

Combinação oriental/marroquina/andaluz, formando uma fusão dos minaretes do mundo islâmico em uma ampla e diversificada técnica, agregando arte e beleza

A filosofia de Sheikh Zayed foi enraizada em bases islâmicas, particularmente a tolerância e o perdão, portanto, tornou-se o sábio dos árabes. Através de sua sabedoriabom senso, Sheikh Zayed foi capaz de colmatar as lacunas com os seus rivais que acabaram se tornando seus amigos. Zayed acreditava na importância da unidade e da solidariedade como um meio de desafiar e enfrentar o caos e conflito.  Seu lema era “somos irmãos em uma família”. Ele acreditava na diversidade sob o guarda-chuva da unidade. Suas políticas foram baseadas em conceitos morais e valores nobres. Pessoas como ele nascem uma a cada mil anos! Que orgulho ter um líder assim!

Foram usadas técnicas modernas de trabalho em vidro artístico e jateado, mosaicos esculpidos, exibindo desenhos tradicionais islâmicos de simetria e repetição.

  Flores esculpidas em mármores coloridos.

Muito lindo!!!!

Algumas considerações a serem feitas na arte islâmica encontrada na mesquita:

- O desenvolvimento da arte ornamental usando mármores multi-coloridos para criar, sem precedentes, foros artísticos, com a ajuda de cores naturais permanentes;

- O desenvolvimento de técnicas sofisticadas associadas com a decoração de colunas coroadas.

As coroas não são fixas no topo das colunas, mas são fixadas na parte inferior. Esta técnica extraordinária é inovadora na arquitetura islâmica.

O maior carpete feito a mão do mundo importado do Irã

Mural com 99 nomes para o Deus Allah

A iluminação noturna faz toda a diferença!

A Grande Mesquita Sheikh Zayed levou 13 anos para ser construída.

Gostou?? Eu adorei!

 

17
setembro
2011

Na curiosidade de entender mais a fundo como é o mundo feminino por de trás das “shilas e abayas“, (o véu e o vestido preto que as muçulmanas usam aqui), fui conversar com uma emirati muçulmana que conheci quando fui tirar minha carteira de motorista.

Muito simpática e atenciosa, ela, a coordenadora, me recebeu com muita educação e respeito, quando eu ainda fazia as aulas obrigatórias para tirar minha carteira de motorista de Dubai.

Tanto a minha instrutora como as outras, se vestiam com abayas e shilas. Era um tanto estranho ter um contato tão próximo com alguém que se vestia assim, pois para mim, elas sempre pareceram ser algo de “outro planeta”.

Mas a minha curiosidade não parou nas aulas. Eu queria saber mais sobre a vida dessas mulheres cobertas, o que elas sentiam e pensavam com relação a esse traje que apagava completamente sua feminilidade.

Com o meu blog no ar, achei que seria uma boa  oportunidade ir entrevistá-las e ver realmente qual era esse mistério que o mundo ocidental custa a entender. E lá fui eu, com a cara e a coragem tentar extrair algumas palavras desse mundo tão obscuro.

A coordenadora, a princípio custou um pouco a lembrar de mim, mas como eu, na época das aulas, ia até ela para me orientar em algumas questões do trânsito da cidade, logo sua memória veio a tona, e mais uma vez, muito simpática, concordou em conversar comigo sobre sua cultura.

Em uma sala mais reservada, ali sentamos e comecei as minhas perguntas com o máximo de cuidado para que nenhuma ofensa fosse indagada a ela ou a sua religião. Eram tantas as interrogações que eu tinha em mente, que a entrevista virou mais um bate-papo descontraído do que outra coisa.

TK: Por que vocês tem que cobrir todo o corpo? Não incomoda ter que esconder sua feminilidade? Como você lida com isso?

“Nós seguimos o que diz o Corão (livro sagrado do Islã).  Nos vestimos assim para nos protegermos. Eu demorei um ano para decidir se queria cobrir meu rosto ou não. Não sou obrigada a cobrir o rosto. Foi opção minha. Me sinto protegida”.

TK: Protegida de que e de quem?

“Dos olhares masculinos. Na nossa religião mulheres não conversam com os homens, a não ser no trabalho ou em casa com os familiares”.

TK: Como assim? Por quê?

“Porque não queremos que nada de mal nos aconteça. Se não nos cobrimos, as chances dos homens nos olharem com “segundas” intenções são maiores e para nos preservarmos, preferimos nos cobrir”. No meu caso, como sou casada, é uma questão de respeito com o meu marido. Não me sinto a vontade me expondo em um ambiente onde há outros homens”.

Nesse momento meus pensamentos estavam a mil por hora! Tudo era completamente o oposto à minha cultura! Nós brasileiros, nos despimos ao invés de nos cobrirmos. Ousamos e exploramos nossa sensualidade ao máximo. Mostramos ombros, pernas, decotes, tudo o que a religião islâmica condena.

“Para que um homem se aproxime de uma mulher, ele tem que ter a permissão dos pais dela  ou estar com intenções sérias de casamento. Não há razão de um homem conversar com uma mulher ou vice-versa se não for para um compromisso mais sério”.

Eu fiquei extasiada! E embalei no ritmo dela..

TK: Desculpe, mas eu não consigo entender. Não há convívio social entre homem e mulher?

“Não. Quando há reuniões, festas, ou casamentos, os homens ficam em uma ala, e as mulheres em outra. Se meu filho leva um amigo na minha casa, minha filha não pode conversar com ele, ou ficarem juntos na mesma sala, a não ser que exista algum compromisso entre eles”.

TK: Mas como você vai saber se ele ou ela podem se aproximar se eles não se falam?

“Bom, nós analisamos sua conduta, sua família. Se ele for um bom rapaz, então perguntamos ao rapaz se ele gostaria de conhecer nossa filha e vice-versa. É como se isso já fosse um passo para um compromisso mais sério. Procuramos protegê-los ao máximo para que o casamento não seja destruído e a futura família preservada”.

TK: Mas e o amor como fica?

“O amor vem depois do casamento”.

(Glup!!)

TK: Então, na verdade, desculpe a minha sinceridade, essa vestimenta é para vocês se protegerem da tentação da carne?

“Digamos que sim. Queremos nos aproximar de alguém que nos queiram pelo o que somos, e não como um simples objeto de prazer”.

TK: Mas uma coisa está ligada com a outra! (já me considerando “a íntima”)

“Sim, mas nossos valores estão acima dos prazeres da carne. O importante é construir uma família sólida, que haja respeito e admiração pelo o que você é”.

TK: Mas, desculpe novamente, não consigo imaginar como um relacionamento pode dar certo dessa forma, pois se com todas as “químicas” e afinidades já existentes já é difícil um relacionamento, imagina um relacionamento onde nenhum desses dois predicados existem (me sentindo “a íntima” novamente!) 

“Pois é -  acrescentou ela – mas acreditamos em outros valores. A família, os filhos, isso tudo vem na frente.

TK: Mas se você não está feliz no casamento, pode se separar e tentar encontrar sua felicidade com outra pessoa.

“Quando se tem filhos, a prioridade são eles. Ainda que eu não esteja feliz, tenho que me sacrificar pela felicidade dos meus filhos”.

A partir dali, a maioria das minhas dúvidas já tinham sido mais do que esclarecidas. Ainda que para nós brasileiros tudo isso soe um tanto estranho, mas tenho que admitir, faz sentido. Tudo é em pról da preservação da família. A intenção é sem dúvida muito admirável. Mas, segundo a  minha entrevistada, mesmo com todos esses cuidados, hoje em dia os jovens não tem mais a mesma tolerância que antigamente e acabam se separando mesmo assim.

Devo ressaltar que o uso de “abayas e shilas” pretas são costumes locais. Outros países de cultura muçulmana como o Marrocos por exemplo, usam vestimentas que também tem o mesmo conceito, no entanto, são de outras cores e modelos.

A simpatia das instrutoras nos seus trajes muçulmanos e euzinha, no meu "tropical attire"

 

03
agosto
2011

É, pelo visto o Ramadan é uma época do ano levada muito a sério mesmo. Em todos os jornais e revistas, não se fala em outra coisa. Os hotéis, mesquitas e restaurantes estão todos enfeitados e preparados para receber os fiéis para o Iftar, a refeição que quebra o jejum logo após o pôr-do-sol.

Celebrando o Iftar no segundo dia de Ramadan

 

Decoração exótica em clima de Ramadan

 

Ficou com vontade de tomar um sorvete??
Então pode colocando suas barbas de molho. Em época de Ramadan só depois do pôr-do-sol.

Portas fechadas em plena luz do dia

 

Para aqueles que não querem perder a freguesia, a cortina é exposta em alguns restaurantes como sinal de respeito aos fiéis.

 

Vamos acordar pessoal!!! Hora de rezar!!

 

O libanês Mohammad Fanas com sua charmosa lanterna, bate em um tambor para acordar os muçulmanos para a refeição antes do nascer do sol na antiga cidade portuária libanesa de Sidon na madrugada desta segunda-feira. Da Síria à Líbia e Egito, diante da instabilidade local, a revolta e inquietação do mundo árabe lançou uma nuvem negra sobre o início do Ramadan.

E esse pão sírio hein!!!! Hummmm… parece até que to sentindo o cheirinho dele saindo do forno!! Tá com uma cara ótima!!! Será que o Sr. Fanas aceita encomendas?? Haha..

Créditos de imagens: AP 

 

 

28
julho
2011

Você sabe o que é RAMADAN?

Rama o quê??

RAMADAN!

Ah ta… é alguma comida típica?

Nãoooo!! Ramadan é o mês sagrado na religião Islâmica! É a época do ano em que se pratica um dos cinco pilares que sustentam a religião. Um deles é jejuar durante todo o mês sagrado do nascer ao pôr- do-sol, que neste ano caiu em agosto em função do calendário lunar, mas dependendo do ano pode cair em outra época.

Hummmm…, quer dizer então que não se come nada o mês inteiro??

Para os muçulmanos, bem antes da alvorada, há uma pequena refeição chamada “su-hoor“ que é como se fosse o café da manhã habitual, feita com alimentos e bebidas. Depois dessa refeição (o sol já estará prestes a nascer), e aí começa-se o jejum. Assim que o sol se põe, já é permitido comer e beber novamente.

Puxa, mas isso tem que acontecer justamente agora, na época mais quente do ano??

Tudo vai depender do calendário lunar. Normalmente acontece nessa época. A palavra Ramadan está relacionada com a palavra árabe ramida, “ser ardente”, possivelmente pelo fato do Islã ter celebrado este jejum pela primeira vez no período mais quente do ano.

Ahhh, entendi!! Uma ótima maneira de perder uns kilinhos hehe!!

Bem, o objetivo é estimular um sentimento de proximidade com Deus, e durante esse período os muçulmanos devem expressar a sua gratidão e dependência a Ele, se reconciliar com seus pecados e pensar nos necessitados. Também ajuda sermos mais tolerantes e humildes com os outros e com nós mesmos além de limparmos o nosso corpo das toxinas.

O jejum não é imposto como uma forma de punição, mas sim como um ato de devoção, de auto-disciplina. É um tempo para a oração, unificação, paciência, caridade, e o auto-sacrifício. O mês de Ramadan oferece uma oportunidade especial para reviver, renovar e revigorar a fé. Orienta a arte de equilibrar as essências espirituais com as necessidades físicas, uma prova viva de que em todos nós há uma força de vontade,  elemento pivô que controla as nossas ações. Isso é necessário para nos ajudar a coibir as nossas tendências animalescas originadas do estômago.

A idéia é fazer esquecer a nossa origem, cor, raça, despertar a nossa mente, reascender e clarear os nossos pensamentos e a nossa consciência de Deus. O jejum é a sobriedade da mente e a reconstrução das nossas faculdades espirituais.

Bom, mas no meu caso, ao invés de clarear minhas idéias, eu é vou ficar totalmente desorientada!!!

Bom, realmente passar fome não é nada agradável. Mas é exatamente esse o desafio: o auto-controle, pois sentindo a dor da fome, se dá valor àqueles que não tem o que comer, ajudando assim, aos mais necessitados. Ao término de cada dia, com o início do crepúsculo, é obrigação do muçulmano quebrar o jejum imediatamente, mesmo antes da oração, suplicando a Deus Criador, segundo relato de Maomé as seguintes palavras: “Se foi a sede, hidrataram-se as veias, e se alcançou a recompensa, com a permissão de Deus”.  A partir daí, comemor-se com amigos e familiares com uma grande refeição chamada iftar e é o momento para celebração de fé e de alegria. A tradição é servirem enormes banquetes nos restaurantes e tendas montadas ao lado das mesquitas especialmente para esse fim. Após esta refeição, é prática social sair com a família para visitar amigos e familiares e reunirem-se para a oração.

E se eu, que não sou muçulmana(o), estiver em algum lugar público e quiser beber ou comer alguma coisa?

É melhor evitar e ir para um lugar reservado, sem que outras pessoas vejam, como uma questão de respeito e consideração com os fiéis. Nos escritórios, há uma ala específica para os não praticantes poderem fazer suas refeições, sem que os muçulmanos vejam. Em hotéis a mesma coisa.

O jejum é obrigatório para todo muçulmano que tenha atingido a puberdade e que goze de perfeita saúde física e mental. A gestante e a lactante, a mulher menstruada (nesse caso vai da consciência de cada uma!!) ou em resguardo pós-parto e os enfermos ou em viagem estão isentos do jejum, devendo repor os dias não jejuados após o término do período que o impossibilita de jejuar. Esta reposição é feita após o mês sagrado, podendo ser em dias alternados ou seguidamente, mas terá como prazo o último dia antes do início do próximo mês de Ramadan. Para o idoso ou portador de uma doença incurável, o jejum deixa de ser uma obrigação, devendo fornecer uma refeição a um necessitado (ou o valor equivalente) por cada dia não jejuado, caso tenha condições.

Em época de Ramadan, o horário de trabalho é reduzido, possibilitando os fiéis a fazerem suas preces.

Tâmaras, mais conhecidas como “dates” – fruta típica da região para se quebrar o jejum. Eu que nunca tinha experimentado, adorei! É docinha e uma delícia!

Iftar na Arabia Saudita

Celebrando o Iftar

Paquistanês alinhando a comida a ser servida na mesquita após o dia de jejum para celebrar o  Iftar

 

Ramadan Kareem! (Que Deus te dê um mês abençoado).